domingo, 21 de dezembro de 2014

Voo D9872

   Da janela do carro vi a placa aeroporto de Guarulhos e foi quando pensei "não tem mais volta". Desci do carro, Terminal 1, peguei um carrinho e coloquei minhas malas, 3 para ser bem específico, e não das mais leves. Enquanto esperava meu pai estacionar o carro, fiquei conversando com minhas amigas, minha tia e minha irmã; não sei explicar o que, muito menos o porquê, mas qualquer contato com as pessoas que eu me importava naquele dia era um tanto peculiar, tudo parecia muito estranho, um tanto angustiante. Aos poucos minha família e meus amigos iam chegando e a ansiedade aumentando. Entreguei as cartas que havia feito na noite anterior para eles, e eles me entregaram as deles; naqueles pedaços de papel estavam prometidos alguns soluços e muitas lágrimas.
   Conversa vai, conversa vem, promessas feitas, era hora do check in, a moça que estava organizando a fila fala "sozinho por favor", minha mãe tem que sair e naquele ponto meus olhos já começaram a lacrimejar. Sou direcionado para o guichê 3, ela logo pediu meu passaporte e os demais documentos, enquanto ela verificava tudo fisgo, de longe, meus pais se abraçando. Ela encontrou um "erro" no meu documento e eu tinha que embarcar naquele momento (uma hora mais cedo) para verificar se tudo estava certo; eu estava segurando o choro por muito tempo, naquele momento eu simplesmente desabei, pensei "tive todo esse trabalho, estresse, para chegar aqui e não dar certo", minha mãe vem correndo na minha direção e expliquei o que estava acontecendo.
  De mãos dadas, e com todos nos seguindo corremos para o portão 6. Minha cabeça a mil, não havia a mínima ideia de como começar a me despedir de todos e a dúvida do que aconteceria depois daquele detector de metal palpitava na minha cabeça. 
   Com abraços mais rápidos do que desejado me despedi de todos, em meio de "eu te amo"s e "boa sorte"s era hora da parte mais difícil, me despedir dos meus pais, lembro exatamente do abraço mais apertado que já recebi, do beijo na bochecha cheia de lágrimas e da frase que eles gritavam enquanto a segurança me apressava, já que estava atrapalhando o movimento, "estamos torcendo por você, estaremos sempre aqui, te amamos".
  Ouvi outros gritos mas não lembro ao certo o que diziam. Desobedecendo o que minha amiga havia dito mais cedo olhei para trás e vi todas as pessoas que eu amo acenando e com lágrimas nos olhos, com meu coração partido continuei andando. Assim que cheguei na polícia federal recebo a mensagem "quase consegui", de uma das pessoas mais especiais na minha vida e chorei, daquele momento em diante chorei, chorei e chorei.
  Completamente desorientado e com um chá de pêssego, muito do caro, busquei a sala de espera do meu voo. Procuro uma cadeira vazia perto de uma tomada, para carregar meu celular e continuar falando com a minha mãe e eis que encontro outra intercambista, que acabou se tornando minha companheira. Ficamos conversando, por aqueles minutos parei de chorar.
  "Última chamada, passageiros do voo D9872, com destino a Michigan, embarque imediato"

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