quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2015, por favor...

Caro 2015,
  Por favor me dê paciência; assim como em 2014 (um pouquinho mais se possível), para lidar com os roncos quando divido quarto de hotel, as perguntas como "Do you speak spanish?", a comida mexicana e com a espera pelos dias que aindam faltam.  Mantenha a saudade longe; aquela que me faz querer voltar pra casa, a que me faz pensar em tudo que estou "perdendo".  Quero mais momentos para serem guardados no filme 56x64mm da minha Instax; momentos cheios de risada, não simplesmente risadas, mas gargalhadas; momentos que valham a pena os $5 do filme e o atordoamento do flash. Aceito também mais histórias, de preferência boas; mas as ruins também têm seu valor, histórias para colocar no meu diário, as que escreverei com a minha Bic preta, histórias que preencheram minhas páginas em branco; e que um dia contarei aos curiosos que se interessarem. 2015, você pode trazer muita coisa, mas já lhe aviso, sempre continuarei exigente quando o assunto é comida. 2014 fez um bom trabalho; dentro das proporções, me apresentou lasanha, macarrão (não sei como vivi 17 anos sem) e muitos outros "pratos".  Permita que eu aprecie os detalhes do meu dia-a-da, das mensagens de "bom dia" da minha família aos "take care" da motorista do ônibus, quando desco na porta de "casa". Apreciar as amizades, aquelas que estão comigo há muito tempo; e permanecem; aos pequenos gestos dos amigos, que chamo de irmãos. Aquelas que apareceram há pouco tempo e falam outra língua, que me acolheram e abrigaram.  Do mesmo modo que 2014 me fez valorizar tudo que eu tinha, mostre o valor do que eu tenho hoje.  Muito amor, sem moderação! Amor próprio e ao próximo. Amor aos pequenos gestos, aos frapuccinos descafeinados de chocolate, as risadas, aos intercambistas brasileiros (e aos de outros países também), a imagem refletida no espelho, a meus amigos, a playlists acústicas, minha família e a tudo de novo que me espera.  Assim como em 2014, 2015, por favor me surpreenda; de uma boa maneira é claro.
Mal posso esperar para ver o que você tem guardado pra mim 2015,

 Matheus.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Natal?

Natal no intercâmbio. Hm, diferente? Claro. Estranho? No mínimo. Um natal cheio de "novidades"? Com toda certeza.
Para começar: sem árvore de plástico, pinheiro natural; direto da estrada, cortado por ninguém mais ninguém menos do que eu. Além de cortar minha primeira árvore tive que arrastá-la para dentro de casa e montá-la sozinho; diferente dos anos anteriores que tirava todos os enfeites do lugar e deixava para minha mãe fazer o trabalho "pesado". 
Empacotei meus presentes; fiz um bom trabalho para um iniciante, mas nada que se compare aos pacotes que minha irmã fazia.
Nada de coxinha, Chocottone, folheado de frango ou brigadeiro; Para ceia: Lasanha. E quem está envolta da mesa, pela primeira vez, não é a minha família. Mas não há problema que Skype não resolva; obviamente não da para receber aquele abração que só meu pai sabe dar, ou aquele beijo na bochecha de tia pela tela do celular, mas só de vê-los fazendo as mesmas palhaçadas de sempre já é o suficiente.
Ao invés de um copo gelado de guaraná, uma xícara de chocolate quente em mãos enquanto vejo pela janela a neve cair e penso "Isso não parece natal", e talvez não seja o que eu costumava chamar de natal; com a minha família, meu desespero para o amigo secreto, os jogos de cacheta e o "feliz natal" a meia noite, mas é o que chamo de natal hoje; assistir filmes natalinos na frente da lareira, com um olho na tv e outro no celular; falando com minha família, agradecendo por tudo que costumava ter, e o que tenho hoje e esperando a manhã do dia 25 para finalmente dizer "Merry Christmas".

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

"Are you Matheus?"

Depois de todo o caos para o check in, finalmente embarquei; para a pior viagem de avião que eu já havia feito!
Meu assento era na asa direita, no corredor; assim conseguiria sair para ir ao banheiro (sem incomodar a pessoa do meu lado), algo que eu tinha certeza que aconteceria multiplas vezes, já que quando fico nervoso faço xixi sem parar. 
Antes mesmo do avião decolar peguei as cartinhas na minha mochila, coloquei meus fones de ouvido; "The Call" estava tocando, e comecei a lê-las enquanto mascava meu chiclete de menta; afinal não queria que meus ouvidos entupissem com a pressão, e foi questão de minutos, não, de segundos até eu começar a chorar, e a cada carta o fluxo de lágrimas aumentava até eu começar a soluçar. A aeromoça, preocupada, me perguntou se eu estava bem (acho que estava um pouco claro que não) e me ofereceu um copo d'agua. O avião decola.
Com o passar do voo, a "janta", inumeras idas ao banheiro; seja para conversar com a minha amiga (que havia feito na sala de espera) ou só esticar as pernas, as luzes do avião foram desligadas e não muito depois todos estavam dormindo. Tentei fazer o mesmo mas não funcionou, passei as 18 horas do voo assistindo comédias, sendo acertado pelo cotovelo do japônes sentado ao meu lado, conferindo quanto tempo faltava para pousarmos e comendo ursinhos de geleia.
Finalmente chegamos a Michigan, o destino da minha amiga; mas não o meu (Fiz essa escala estupida por não saber nada da geografia dos Estados Unidos). Comi panquecas no aeroporto, com uma intercambista do Brasil que encontrei lá (tem brasileiro em todo o lugar mesmo) e na hora de pagar a conta e sair minha mochila bateu na mesa e derrubou tudo, quebrei copos, pratos, fiquei apavorado achando que já seria deportado, mas a garçonete só falou para eu não me preocupar que ela tomaria conta, amem!
Com uma conexão de 5 horas tive muito tempo; tempo demais, para andar pelo aeroporto.
Depois de comprar alguns chocolates, um chá de pessêgo e mais chiclete fui para meu portão, era hora para meu ultimo voo antes de chegar ao lugar que chamaria de casa pelos próximos 10 meses, Colorado. A viagem foi bem mais tranquilha; e curta, em 4 horas já estava em Denver.
O aeroporto era ridiculamente gigante e eu obviamente me perdi. Pedi informação para pessoas que estavam tão perdidas quanto eu e acabei dando voltas e voltas no aeroporto, até que encontrei o lugar que eu deveria estar, minhas malas estavam sozinhas me esperando na esteira (já que provavelmente ninguém se perdeu por 35 minutos). Assim que as peguei, pensei "Como vou encontrá-los?", e foi aí que alguém pôs a mão no meu ombro e perguntou "Are you Matheus?", e a aventura começou. Fort Lupton aí vou eu.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Voo D9872

   Da janela do carro vi a placa aeroporto de Guarulhos e foi quando pensei "não tem mais volta". Desci do carro, Terminal 1, peguei um carrinho e coloquei minhas malas, 3 para ser bem específico, e não das mais leves. Enquanto esperava meu pai estacionar o carro, fiquei conversando com minhas amigas, minha tia e minha irmã; não sei explicar o que, muito menos o porquê, mas qualquer contato com as pessoas que eu me importava naquele dia era um tanto peculiar, tudo parecia muito estranho, um tanto angustiante. Aos poucos minha família e meus amigos iam chegando e a ansiedade aumentando. Entreguei as cartas que havia feito na noite anterior para eles, e eles me entregaram as deles; naqueles pedaços de papel estavam prometidos alguns soluços e muitas lágrimas.
   Conversa vai, conversa vem, promessas feitas, era hora do check in, a moça que estava organizando a fila fala "sozinho por favor", minha mãe tem que sair e naquele ponto meus olhos já começaram a lacrimejar. Sou direcionado para o guichê 3, ela logo pediu meu passaporte e os demais documentos, enquanto ela verificava tudo fisgo, de longe, meus pais se abraçando. Ela encontrou um "erro" no meu documento e eu tinha que embarcar naquele momento (uma hora mais cedo) para verificar se tudo estava certo; eu estava segurando o choro por muito tempo, naquele momento eu simplesmente desabei, pensei "tive todo esse trabalho, estresse, para chegar aqui e não dar certo", minha mãe vem correndo na minha direção e expliquei o que estava acontecendo.
  De mãos dadas, e com todos nos seguindo corremos para o portão 6. Minha cabeça a mil, não havia a mínima ideia de como começar a me despedir de todos e a dúvida do que aconteceria depois daquele detector de metal palpitava na minha cabeça. 
   Com abraços mais rápidos do que desejado me despedi de todos, em meio de "eu te amo"s e "boa sorte"s era hora da parte mais difícil, me despedir dos meus pais, lembro exatamente do abraço mais apertado que já recebi, do beijo na bochecha cheia de lágrimas e da frase que eles gritavam enquanto a segurança me apressava, já que estava atrapalhando o movimento, "estamos torcendo por você, estaremos sempre aqui, te amamos".
  Ouvi outros gritos mas não lembro ao certo o que diziam. Desobedecendo o que minha amiga havia dito mais cedo olhei para trás e vi todas as pessoas que eu amo acenando e com lágrimas nos olhos, com meu coração partido continuei andando. Assim que cheguei na polícia federal recebo a mensagem "quase consegui", de uma das pessoas mais especiais na minha vida e chorei, daquele momento em diante chorei, chorei e chorei.
  Completamente desorientado e com um chá de pêssego, muito do caro, busquei a sala de espera do meu voo. Procuro uma cadeira vazia perto de uma tomada, para carregar meu celular e continuar falando com a minha mãe e eis que encontro outra intercambista, que acabou se tornando minha companheira. Ficamos conversando, por aqueles minutos parei de chorar.
  "Última chamada, passageiros do voo D9872, com destino a Michigan, embarque imediato"

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Fechando a Mala

Demorou, e muito, pra eu perceber o que eu estava prester a fazer. A ficha não caiu quando assinei o contrato, recebi a host family ou fiz as malas; mas sim quando fechei a mala.
Confesso que tentei, durante meus ultimos dias no Brasil, me alienar de toda essa loucura de "to indo embora" e acredito ter feito um bom trabalho. Claro que estar cercado pela minha familia e amigos ajudou, Porque mesmo evitando o sentimento de partida, a sensação de que não iria ter aquelas risadas e abraços ao meu dispor por meses estava ali e tentei aproveitar ao máximo cada uma, enquanto podia.
Coloquei um último par de meias, a escova de dentes e fechei o ziper da mala. Com o cadeado colocado as malas estavam prontas e foi quando me atingiu: eu estava partindo! Nos minutos restantes observei meu quarto, minha casa. Fiz questão de guardar cada detalhe na minha cabeça, pelo simples medo de acabar esquecendo, a certeza de que não seria a mesma coisa quando eu voltasse; até porque eu não seria o mesmo, e a precaução de ter esse lugar guardado na minha mente, pronto pra me abrigar quando batesse a saudade. Não, não estava indo embora pra sempre mas pra quem estava vivendo tudo isso pela primeira vez e alguém que não é um grande fã de mudanças (e muito dramático), tudo isso era no mínimo assustador.
Fechei a porta do meu quarto, dei um ultimo abraço na minha cachorrinha e chequei o Instagram, tinha começado, fotos com mensagens de despedida e com isso o choro. Minha mãe trancou a porta e entramos no elevador, adeus décimo andar. Ela, minha irmã, meu pai, minha tia e eu ficamos trocando olhares, sem dizer muito afinal os olhares falavam por si.
De mãos dadas, eu e minha mãe fomos até o carro, sem soltar nossas mãos por mais de um minuto coloquei o cinto e assim fomos rumo ao aeroporto. Pela janela do carro fotografei com meus olhos a padaria da rua onde toda tarde iamos comprar pão frânces, o mercadinho onde várias vezes fui comprar Coca para janta, o bar onde o porteiro do prédio ia depois de seu turno acabar e o ponto de onibus que ja havia me levado para muitos lugares, mas nenhum tão distante quanto o que me esperava.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O começo

A alguns meses atrás eu tomei a maior decisão da minha vida (sem exageros). Fazer intercâmbio. Agora, depois de 3 meses e 18 dias nos Estados Unidos, resolvi começar a guardar e dividir algumas das minhas experiências; as que eu já vivi ou as que estão por vir, em um blog. 
Vou compartilhar aqui um pouquinho de tudo; seja por fotos, textos ou simplesmente um relatório do meu dia, o que acontece por aqui no Colorado (claro com muita hipérbole), então se inscrevam e sigam o blog para receberem notificações dos novos posts e não esqueçam de curtir a página! Espero vocês no próximo post(: