sábado, 21 de março de 2015

Contagem Regressiva


  Já se foram os dias em que eu usaria a mesma jaqueta de couro diariamente; aquela que trouxe de "casa", que usei como armadura, que me protegia de algo que eu tanto temia, mudanças. Deixei-a pra trás, cinco ou seis meses atrás, e decidi aceitar que as coisas só permanecem as mesmas em fotos e eu só canto bem no chuveiro.
  Quatro meses atrás pintei meu cabelo de azul e decidi experimentar macarrão. Descobri que fui muito estúpido em perder 17 anos da minha vida sem essa delícia, que a tinta do mercado não dura os 7 dias prometidos na caixa e que fico muito bem de azul.
  Participei da peça do colégio, plantei uma flor na aula de biologia, me tornei editor chefe do jornal da escola, vi a neve cair pela primeira vez e me acostumei ao silêncio. Com o passar desses outros 30 dias me apaixonei pela quietude, cansei do frio; que uma vez tanto idolatrei, percebi que mesmo sendo assustador, ter responsabilidades não é um bicho de sete cabeças, vi minha flor desabrochar, crescer e morrer (esqueci de regá-la, ops), me apaixonei pelos holofotes e aplausos, e o mais importante, fiz novos amigos.
 Já se foram os dias que ficava na cama, entre as cobertas, me escondendo, com medo de me apegar a novas pessoas, de viver a minha "nova vida". Finalmente, após dois meses, compreendi que amigos não são aqueles que estarão 24 horas, 7 dias da semana ao seu lado, mas sim aqueles que estarão ao seu lado, mesmo a milhas de distância, quando necessário. Conhecer novas pessoas é uma das coisas mais fantásticas do mundo; aos poucos, dia após dias, decifrá-las, descobrir qual sua música favorita, a dança mais estranha ou o momento mais vergonhoso que já passaram, dia após dia compartilhar um pouco de você e receber um pouco deles em retorno; e é para isso que viajamos; que vivemos, para nos dividirmos com os "estranhos" que cruzam nosso caminho; por alguns segundos, minutos, horas, dias, meses.
  Admito que sinto falta; de muita coisa aliás, do meu chuveiro, dos almoços de domingo, do céu sendo cortado por milhares de prédios e de assistir a novela das nove, mas a um mês atrás percebi; enquanto escrevia nas páginas do meu diário, que essa mesma caneta que uso para guardar as memórias que construo é aquela que risco os dias no meu calendário, aquele pendurado na parede do meu quarto, me lembrando todos os dias que o tempo está passando e que tenho apenas mais 3 meses; 3 meses para montar bonecos de neves, encontrar o melhor doughnut de chocolate do mundo, experimentar mais um ou dois pratos; só mais três meses para explorar, rir, tentar, errar, aprender, teimar e rir mais um pouco; só mais três meses até eu abraçar novamente minha família e meus amigos; infelizmente só mais três meses até eu abraçar meus amigos, mas um abraço de despedida e de dúvida, de quando nos veremos novamente; mais três meses para fazer valer apena. 

2 comentários:

  1. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena..... assim esta escrito no famoso livro O PEQUENO PRINCIPE. E vc querido, saberá quando estiver aqui q essa separação te trará grandes conquistas e que valeu muitooooo a pena. Bjs.��

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  2. Estou cada dia mais orgulhosa de vc, ai vc aprendeu não só a diversificar na alimentação, reaprendeu a ler livros.....

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